quarta-feira, 27 de maio de 2009

O Ladrão dos caixotes do lixo

Após uma manhã de vento intenso, de cabelos enfurecidos que seguem as folhas de papel como cães de guarda, surge vindo do nada um som cortante, uma criança chora sozinha numa paisagem desoladora. Como ela existem várias outras crianças, para sobreviverem juntaram-se, cuidam os mais velhos dos mais novos, só esta criança chora cá para fora, de dentro os fragmentos rejeitam ser um só, uma mão gorda e forte afaga os cabelos sujos da criança, as ondas recuam agora deixando um rasto de sal e de ansiedade dando lugar a pegadas constantes, oscilantes e ela dá a mão ao vazio apertando-o gentilmente.
Embalam as crianças, protegendo-as do frio que a noite costuma neste Inverno trazer consigo, sem ela os dias seriam insuportáveis, esmagadora realidade que não conta o tempo, cada dia é prenúncio de outro dia, nada mais. Esqueçam este dia, hoje dormem de barriga vazia, pesadelos reaparecem nos horizontes infantis, a criança cresce morta, morre sem vida, renasce todas as noites de olhos fechados, de punhos cerrados, escondidas nos sonhos as crianças brincam na rua acompanhadas dos pais, irmãos e avós.
Na hostilidade, um rebento conspira contra todos, quer viver.

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